Estava atrasado para o trabalho, só pra variar um pouco. Levantar da cama era uma batalha diária e cada vez menos tinha vontade de vencê-la. Era uma pequena morte a cada manhã.
Entrei no elevador para subir os sete andares até a minha mesa. Julguei estar sozinho, mas me equivoquei. Um pequeno inseto voava debilmente lá dentro, se lançando contra as paredes, indo na direção das diversas luzes daquele cárcere temporário na esperança de achar a saída.
Sua inteligência artrópode era limitada demais para entender o que estava acontecendo, creio eu. Será que ele é capaz de sentir pânico? Será que é preciso racionalizar o perigo para o chegar no desespero?
O painel finalmente mostra o número 7. A porta se abre e novas luzes, ainda mais intensas, levam o inseto para este novo ambiente. Um pouco mais amplo, mas igualmente confinado e mentiroso. Ele procura a luz do sol, não a lâmpada!
Durante poucos segundos, ele parecia satisfeito com seu novo espaço, mas não demorou muito para iniciar mais uma vez seu frenesi em busca de algo além daquelas paredes. Talvez ele saiba, ou apenas sinta, que sua vida de inseto é curta demais para perder tempo com lâmpadas artificiais.
Entrei na minha sala, sentei na minha mesa. Não conseguia mais ver se ele ainda estava no corredor, mas conseguia ver o sol iluminando o dia através da janela. Toquei o vidro suavemente e respirei fundo. A tela do meu computador brilhou e roubou minha atenção. Mais um dia de trabalho.
Made of Steel