sábado, 31 de dezembro de 2016

SEM LIMITES

Existe uma canção dum famoso musical (RENT) que faz a pergunta: Como você mede um ano?

Na letra, podem ser "daylights, sunsets, midnights, cups of coffee, inches, miles, laughter, strife" e, por fim, propõe que seja medido em AMOR.

Como todos fazem nessa época, fiquei tentando lembrar o que vivi em 2016 e fazer um "balanço" do ano. Minha conclusão? Eu meço meu ano em SENSAÇÕES.

Os toques dos abraços que recebi, os sabores dos beijos, as palpitações dos momentos de ansiedade, as angústias dos momentos tristes, os cheiros dos perfumes que senti, as contorções nos rompantes de raiva, os relaxamentos naquelas horas sublimes, as faltas de ar nos instantes que antecederam coisas importantes, as irritações dos problemas cotidianos, o calor do sol na minha pele, as lágrimas que escorreram pelo meu rosto, o suor que percorreu meu corpo, os movimentos dos meus lábios em cada sorriso...

Baseado nisso posso dizer, sem qualquer dúvida, que 2016 foi um dos anos mais longos da minha vida!

Tão surpreendente que, mesmo nos seus dias finais, este ano conseguiu se estender ainda mais. Como se quisesse ser infinito.

A grande lição que tiro deste ano é que a vida é frágil e, talvez, não exista um "propósito maior". Talvez sejamos mesmo todos como hamsters brincando numa rodinha, sem sair do lugar ainda que não paremos de correr. Mas nem por isso a vida deixa de ser mais bela e intensa. Essa "corrida sem chegada" pode (e deve!) ser recheada de prazeres, de todos os tipos!

Afinal, se essa corrida não tem fim, ela é infinita. E o que é o infinito senão algo que não tem limites?  :)

Obrigado a todos que fizeram parte do meu 2016, e de todos os anos anteriores também!

Que o próximo ano seja mais doce, mais intenso e ainda mais difícil de ser medido.

Que cada dia, cada instante, seja infinito!!

Made of Steel

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

A MULHER NA ILHA

Estava na praia, como fazia quase todos os Sábados, caminhando tranquilamente. Daquelas coisas que, de tão habituados, fazemos quase sem pensar. Porém, desta vez, algo novo chamou minha atenção: uma linda mulher, com um sorriso vibrante e cabelos castanhos, acenou para mim.

Meu corpo inteiro se arrepiou. Acenei de volta e começamos a conversar animadamente, num flerte tão óbvio que até quem estava ao redor parou para assistir à cena.

Não demorou muito e já estávamos dançando juntos, trocando olhares, beijos, carícias e suspiros. Sua voz doce invadia meus ouvidos de um jeito arrebatador e seus lábios pequenos pareciam eternos convites.

Nos apaixonamos quase instantaneamente. Era tudo muito simples, natural, sincero.

Porém, num determinado instante, senti a água do mar sob meus pés e, ao olhar pra baixo, vejo que eu estava na beira da praia. Subindo meu olhar percebo, então, que a linda mulher não estava ali ao meu lado, mas numa ilha.

Ela estava lá desde o início, ainda que tudo que vivemos juntos naqueles breves momentos anteriores também tenham sido reais! Ela não saiu da ilha, nem eu fui até lá, mas ambos tínhamos a certeza de que estivemos unidos.

Depois de saber da existência da ilha, ficou mais difícil me aproximar. A mulher, por sua vez, hora demonstrava não querer estar ali e vir para os meus braços, noutras deitava no solo e deixava muito claro que se sentia feliz naquele lugar, em outros até parecida não querer nem um, nem outro.

Atravessar o mar para vir ao meu encontro era algo perigoso. Mesmo que ela amasse o Reino de Yamenjá, já vivenciara nele perigos que deixaram cicatrizes pra toda sua vida. Além disso, a ilha não era um lugar ruim! Aquele pequeno espaço de terra lhe proporcionou diversos momentos bons.

Lá estava eu, triste por não poder me aproximar, mas feliz por tê-la conhecido e poder tocá-la, mesmo que à distância. 

Cogitei construir um barco e cheguei a reunir alguns pedaços de madeira, mas ela me censurou, como se repetisse com os olhos aquilo que disse no dia em que nos conhecemos, num outro contexto, fora deste texto de metáforas e poesia: "deixa que eu mesma resolvo meus assuntos". 

Tanto eu quanto ela sabíamos que, de fato, não cabia a mim intervir. Mesmo que meu nome signifique "protetor/guardião", o dela significa "ousada para atingir a paz", então é suficientemente forte para decidir o que fazer, sozinha.

Não vou mentir e dizer que não gostaria de tê-la ao meu lado. Mas estou feliz em vê-la mesmo quando tenho meus olhos fechados e em visitá-la ali, da beira da praia, para trocar nossos carinhos tão sutis e improváveis. E, ainda que ela precise ficar só, acredito que minhas visitas lhe fazem, de alguma maneira, feliz. Vejo isso nos seus lindos olhos.

Enquanto ela dança ao sabor do vento, plena, inteira e completa, aqui estou, também pleno, sentado na areia, pensando na linda mulher que me inspira, e escrevendo este texto.

Antes do ponto final, quero te dizer, com um sorriso e absoluta leveza, uma coisa que por muitas vezes quase foi dita em palavras e mais de uma foi dita pelo meu olhar:

Eu te amo.

Made of Steel

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

FOLCLORE DO FOGO FÁTUO

Ela tinha nome e beleza de sereia. Praticamente uma menina, com seu jeitinho meigo e cativante. Tinha desejos de mulher, e olhava para o futuro como uma gigante, apesar do corpo pequenino.

Nos conhecemos há poucos meses, num evento com muitos desconhecidos, mas de alguma maneira nos conectamos imediatamente. Não nos envolvemos profundamente, apenas tínhamos a sensação mútua de que fazíamos bem um para o outro, e isso bastava. 

Olhos verdes, sorriso fácil e largo. Ambos muito presentes nas fotos que tirou no Domingo enquanto se aventurava na Selva de Pedra fazendo rapel numa de suas pontes. Atividade perigosa, mas feita em segurança.

Na segunda-feira, dia seguinte, ela estava morta.

Era Dia das Bruxas e, tal qual na Idade Média, uma mulher se viu atacada pelo fogo. Ironicamente, tudo aconteceu em sua casa durante a noite, enquanto todos dormiam. Atividade segura, mas que se tornou perigosa.

Fogo-fátuo é um fenômeno da natureza que pode acontecer por causa dos gases liberados na decomposição de corpos. Na mitologia, poderiam ser fadas ou até mesmo demônios que levavam desavisados para emboscadas. No nosso folclore, está relacionado ao Boitatá.

No dicionário, fátuo: 1) Que possui uma opinião positiva muito elevada de si mesmo; que se julga melhor que os demais; presunçoso; 2) Que apresenta insensatez; insensato; 3) Que não dura muito; que não permanece; transitório.

Esse fogo foi, de fato, fátuo. Presunçoso, insensato. Ceifou a vida de uma garota que ainda tinha muitos sonhos pra concretizar e tantos outros para sonhar. Fátuo também foi nosso encontro. Transitório, breve. Mas nele também houve fogo, daquele que aquece e explode de um jeito bom.

Irônico que a serpente Boitatá tenha levado embora a sereia Iara exatamente no Dia do Saci.

Fica a lição de que, assim como o fogo, nós e a vida somos fátuos. Supervalorizamos a vida e a nós mesmos, como se esquecêssemos o quanto ela é curta e nós frágeis. Ambos insensatos e que não duram muito.

Que cada instante seja pleno e, ao seu modo, eterno.

Fique bem, pequenina!

Made of Steel