terça-feira, 20 de dezembro de 2016

A MULHER NA ILHA

Estava na praia, como fazia quase todos os Sábados, caminhando tranquilamente. Daquelas coisas que, de tão habituados, fazemos quase sem pensar. Porém, desta vez, algo novo chamou minha atenção: uma linda mulher, com um sorriso vibrante e cabelos castanhos, acenou para mim.

Meu corpo inteiro se arrepiou. Acenei de volta e começamos a conversar animadamente, num flerte tão óbvio que até quem estava ao redor parou para assistir à cena.

Não demorou muito e já estávamos dançando juntos, trocando olhares, beijos, carícias e suspiros. Sua voz doce invadia meus ouvidos de um jeito arrebatador e seus lábios pequenos pareciam eternos convites.

Nos apaixonamos quase instantaneamente. Era tudo muito simples, natural, sincero.

Porém, num determinado instante, senti a água do mar sob meus pés e, ao olhar pra baixo, vejo que eu estava na beira da praia. Subindo meu olhar percebo, então, que a linda mulher não estava ali ao meu lado, mas numa ilha.

Ela estava lá desde o início, ainda que tudo que vivemos juntos naqueles breves momentos anteriores também tenham sido reais! Ela não saiu da ilha, nem eu fui até lá, mas ambos tínhamos a certeza de que estivemos unidos.

Depois de saber da existência da ilha, ficou mais difícil me aproximar. A mulher, por sua vez, hora demonstrava não querer estar ali e vir para os meus braços, noutras deitava no solo e deixava muito claro que se sentia feliz naquele lugar, em outros até parecida não querer nem um, nem outro.

Atravessar o mar para vir ao meu encontro era algo perigoso. Mesmo que ela amasse o Reino de Yamenjá, já vivenciara nele perigos que deixaram cicatrizes pra toda sua vida. Além disso, a ilha não era um lugar ruim! Aquele pequeno espaço de terra lhe proporcionou diversos momentos bons.

Lá estava eu, triste por não poder me aproximar, mas feliz por tê-la conhecido e poder tocá-la, mesmo que à distância. 

Cogitei construir um barco e cheguei a reunir alguns pedaços de madeira, mas ela me censurou, como se repetisse com os olhos aquilo que disse no dia em que nos conhecemos, num outro contexto, fora deste texto de metáforas e poesia: "deixa que eu mesma resolvo meus assuntos". 

Tanto eu quanto ela sabíamos que, de fato, não cabia a mim intervir. Mesmo que meu nome signifique "protetor/guardião", o dela significa "ousada para atingir a paz", então é suficientemente forte para decidir o que fazer, sozinha.

Não vou mentir e dizer que não gostaria de tê-la ao meu lado. Mas estou feliz em vê-la mesmo quando tenho meus olhos fechados e em visitá-la ali, da beira da praia, para trocar nossos carinhos tão sutis e improváveis. E, ainda que ela precise ficar só, acredito que minhas visitas lhe fazem, de alguma maneira, feliz. Vejo isso nos seus lindos olhos.

Enquanto ela dança ao sabor do vento, plena, inteira e completa, aqui estou, também pleno, sentado na areia, pensando na linda mulher que me inspira, e escrevendo este texto.

Antes do ponto final, quero te dizer, com um sorriso e absoluta leveza, uma coisa que por muitas vezes quase foi dita em palavras e mais de uma foi dita pelo meu olhar:

Eu te amo.

Made of Steel

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