segunda-feira, 27 de outubro de 2014

MAS O QUE VAI RESTAR É O SILÊNCIO

Era domingo. A nação escolhia seu governante pelos próximos quatro anos. Era domingo e, assim como num certo domingo de Agosto recente, tive que me desfazer de uma parte de mim, mas desta vez a dor era muito maior, pois era uma parte que não queria perder.

Era domingo quando nos conhecemos. Na verdade, foram dois domingos. No primeiro você me conheceu, no segundo eu te conheci.

Era domingo quando senti o gosto dos seus lábios pela primeira vez e, um domingo depois, tão avassalador era aquele sentimento que dividíamos, ouvi um "sim" ressoando docemente entre esses mesmos lábios.

Era domingo quando te entreguei os anéis de prata que selavam nosso compromisso. Tudo isso durante um ritual sagrado, solene e intenso que acontecia há exatos três anos. Justo 3, um número que sabemos quantos significados tem para nós.

Muitos domingos se passaram desde então. Muitos sorrisos, beijos, abraços, carinhos, toques, palavras, respirações, ocitocinas, panaceias, batimentos, lágrimas... Só não pensei que o domingo seria também o fim, pois não pensava que existiria o fim.

Domingo é o dia do Sol. Foi você quem me ensinou. Assim como me ensinou muito mais. E lhe serei eternamente grato por isso. Assim como serei eternamente acompanhado pelo sentimento transcendental que nos uniu e que sabemos que nunca nos abandonará.

Escrevo essas palavras numa segunda-feira, dia da Lua. No mesmo dia da Lua em que você inicia um novo ciclo que comemoraríamos num dia do Sol depois de, numa sexta-feira, dia de Vênus, eu cantar com todo o meu fôlego para que deixem o Sol entrar. Sol... domingo... deixa... entrar...

E é assim, sem conter as lágrimas que escorrem pelo meu rosto, que deixo entrar sua última mensagem vinda no dia do Sol, mesmo que ela "entrar" signifique aceitar que parte de mim saia e que, ao contrário do que se espera do Sol, me tire um pouco da luz.

No seu próximo dia de Vênus, você estará celebrando mais uma vez um ritual de amor. Como você mesma disse, de Amor Próprio. Eu me despeço com outras palavras que cantei no meu último dia de Vênus:

Um último olhar
E um abraço dar
Pela última vez beijar
Mas o que vai restar
É o silêncio...

Adieu?
Non.

Made of Steel

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