Impressionante como locais de grande movimentação coletiva são ótimas fontes de inspiração para filosofar! Quase tão recorrente quanto acordar para um novo dia, andar no metrô de São Paulo me proporciona diversos momentos em que algo chama minha atenção e leva meus pensamentos para longe. Dessa vez o que assunto é o tempo (ou ritmo) que cada pessoa tem.
Estava apressado, andando numa velocidade acelerada, precisava pegar "aquele" trem senão me atrasaria para um compromisso. Foi então que no meu caminho vi se aproximando um senhor bem idoso, curvado em sua bengala, com suas passadas lentas e curtas. Já éramos antagonistas por si só, mas para minha surpresa fui ultrapassado rapidamente por um rapaz que corria o mais rápido que podia. Passou por mim, sequer notou o velho, estava focado no seu objetivo, que era o mesmo que o meu.
Muito interessante essa relação: 3 indivíduos que estavam no mesmo lugar, na mesma hora, com o mesmo destino, mas ainda assim com percepções completamente diferentes porque tiveram tempos diferentes para analisar o que se passava ali. O rapaz correndo sequer podia raciocinar qualquer coisa que não fosse o caminho mais rápido até o trem, preocupando-se em escapar dos inúmeros obstáculos que encontrava no percurso. Eu, caminhando rapidamente, conseguia ver melhor as coisas, observar detalhes, perceber o que acontecia, mas provavelmente não reconheceria um amigo passando a alguns metros de distância, se acontecesse. O idoso, por sua vez, poderia até mesmo tentar decorar as feições daqueles que passavam, sentir cheiros de perfumes passageiros que estivessem por perto. Realmente, curioso.
Curioso é perceber, então, como isso é verdadeiro em nossas vidas. Quantas vezes não deixamos de apreciar certos momentos por causa de uma pressa muitas vezes desnecessária? Aquele beijo matinal rápido do marido atrasado que tanto vemos em filmes, por exemplo, como seria seu dia se ele se permitisse um beijo caloroso e apaixonado em troca de 1 ou 2 minutos a mais de espera? E aquele bolo que não teria queimado se você tivesse sido mais rápido em desligar o forno? Hoje é tudo tão frenético, desperdiçamos muita coisa por isso! Afinal de contas, são as tartarugas que vivem 100 anos, não as lebres!
Cada um tem seu ritmo, cada corpo trabalha num tempo diferente, isso é indiscutível, mas meu questionamento está no exagero. Temos que parar com essa mania de achar que "otimizar o tempo" seja preencher todos os segundos do seu dia com atividades sem margens para respiros. Certas coisas da vida precisam de um pouco mais de paciência para atingirem seu ápice.
Foi assim, depois de "perder um pouco do meu tempo" pensando que percebi: quem será que aproveita melhor a vida? O rapaz corredor que está "otimizando" seu tempo ou o senhor que efetivamente consegue sentir e perceber simplesmente porque se permite "desperdiçar" parte do pouco tempo de vida que lhe resta?
Acima de tudo: de quanto tempo as pessoas precisarão para perceber isso?
Made of Steel
Um detalhe importante: será que o velho estava andando lentamente porque queria "apreciar" as coisas, ou simplesmente porque suas pernas já não podem mais correr? Se pudessem, ele estaria na mesma velocidade do jovem que não olha pra nada? Talvez mais rápido?
ResponderExcluirNão acho que o velho "se permite desperdiçar" o tempo. Ele precisa. Não há opção.
Poderíamos parar para aprecisar a vida sem sermos obrigados a isso. Poderíamos olhar e sentir as coisas sem precisar estar com uma bengala, cadeira de rodas ou gesso. Quanto tempo precisaremos para perceber isso? Ótima pergunta. Às vezes levamos tempo demais.
Post muito bom! Je t'aime, mon absurde! E seus absurdos (que nunca foram absurdos)são fonte de textos cada vez mais interessantes.
PS- Quanto ao beijo matinal, é incrível como 2 minutos a mais de espera podem valer a pena.