terça-feira, 8 de novembro de 2016

PÁSSARO NA GAIOLA

Hoje o Facebook recuperou a memória de um post que fiz há 3 anos onde fazia minha contagem regressiva até, finalmente, me libertar da rotina dum emprego que não era mais suportável. Naturalmente, isso me fez parar por um instante pra refletir sobre o que aconteceu desde então.

Me sentia um pássaro dentro duma gaiola que, mesmo sabendo que estava seguro e com comida garantida no pote, olhava através das grades e não conseguia desejar nada senão conhecer o mundo lá fora. Mesmo sabendo que era perigoso, abri a porta da gaiola e saí de peito aberto, confiante de que conseguiria sobreviver.

Eu me arrisquei: larguei a estabilidade do funcionalismo público para investir numa carreira artística num país onde o cenário para isso é atroz e cruel. Escolhi o duvidoso e, na minha avaliação, acertei!

Durante esse percurso, fui elogiado muitas vezes pela minha "coragem". Mas, ora, que tipo de elogio é esse? Por que é admirável que alguém simplesmente escolha seguir o caminho que te faz feliz? Que visão deturpada é essa?!

O mundo fora da gaiola é realmente selvagem, é verdade. Mas se engana quem pensa que dentro dela está a salvo. As grades não protegem de tudo: as garras dos predadores ainda passam entre os vãos e, com um breve vacilo, você pode sair ferido. Isso sem falar que, a qualquer momento, você pode ser expulso da gaiola contra a sua vontade e, então, se ver obrigado a enfrentar o hostil "lado de fora" sem estar verdadeiramente preparado.

Seja como for, acredito que seja mais fácil para quem está fora das grades perceber todos esses perigos. Então continuo aqui com meus vôos, descobrindo a cada dia como fazer para chegar inteiro ao fim dele, enquanto observo outros pássaros dentro e fora de seus cárceres.

Mas... posso confessar uma coisa? Às vezes vejo sombras de grades por lugares onde passo e fico me perguntando se, afinal, o "mundo de fora" nada mais é do que o interior de uma gaiola ainda maior.

Se realmente for, será que me contentarei com o que tenho? E se, ao transpassar mais um limite, será que não encontrarei gaiolas cada vez maiores?

Será que, algum dia, serei verdadeiramente um pássaro livre?

Made of Steel

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