sábado, 11 de junho de 2011

A MAÇÃ

Existe uma enorme macieira e, de tão enorme, dá frutos durante todo o ano. As maçãs que dela nascem são muito parecidas para qualquer observador casual, mas quem prestar um pouco mais de atenção perceberá que cada maçã é única em sua existência, mesmo que ainda sejam todas igualmente maçãs.

Algumas são maiores que outras, suas formas vão desde a esfera mais perfeita até a completa disformidade, suas colorações variam em diferentes tons de verde e vermelho. Dividem-se entre os galhos de maneira caótica, nem todas respeitam o espaço das demais e teimam em crescer espremidas quando poderiam usar o espaço disponível à poucos metros.Também é verdade que dentre elas existem aquelas que apodrecem mais rápido que as demais, enquanto outras simplesmente recusam-se à apodrecer, mantendo-se saudáveis e açucaradas até o fim.

No meio de tantas maçãs, existe uma em particular que hoje está em evidência. Ela não é e nem nunca foi a mais doce, nem a mais redonda, nem mais avermelhada, mas também estava longe de ser uma maçã horrível e podre. Ela já está pendurada na enorme árvore há um bom tempo, o vento está fazendo-a balançar muito e, à qualquer momento, cairá.

As maçãs mais próximas, acostumadas com sua presença ali ao lado, observam preocupadas seu balanço, mas sabem que nada podem fazer para ajudá-la, restando-lhes apenas a expectativa. "Quando vai acontecer? Sabemos que é inevitável, mas quando?" – pensam as maçãs.

Cedo ou tarde, ela cairá e finalmente tocará o solo. Estará livre da árvore e poderá deixar-se ser carregada pelo vento. Talvez conheça muitos outros lugares antes de desaparecer, mas não poderá partilhar nada com suas antigas colegas, pois elas estarão longe, presas na árvore. 

Ao menos, para aquelas que ficaram, restará o alívio do fim da agonia e a esperança de que a vida no solo seja melhor que nos galhos da enorme macieira.

Made of Steel

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